quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O sorriso na colina

Para ela, os dias eram vazios e sem cor. Limitava-se a ver, inconformada, a neblina que engolia
a cidade todas as manhãs. Num misto de ignorância e indiferença, jamais ansiou mudar coisa
alguma – em si ou no mundo. Sem sonhos, seguia só, sofria só.

Fazia o mesmo caminho todos os dias – sem cores, sem pássaros, sem vida. Ao subir a colina,
olhava para o céu reclamando Sua indiferença. Numa destas olhadas, notou bem no alto da
colina, o perfil de um menino.

A partir de então, sempre queria ver se o menino estava lá – até que já não olhava para o alto
para praguejar, mas somente para se certificar-se de sua presença.

Certo dia o menino sorriu, e porque sorriu, fez com que ela percebesse que todas as manhãs
o mundo sorria para ela e a convidava a ser feliz. Assim, abriu os olhos e não viu mais um dia
cinza, frio e escuro: viu a natureza falando da glória Daquele que a criou com todo primor.
Olhou para o céu intensamente pintado de rosa, laranja e amarelo e sorriu lamentando ter
ficado de olhos fechados por tanto tempo. Sorriu, agradecida ao menino anônimo que parecia
cada vez mais amigo, mais íntimo. Viu com admiração que os primeiros raios de sol nasciam -
fazendo brilhar aquele céu que até ali julgava cinza.

Desde então não via mais as pessoas como parte da paisagem cotidiana, mas como meninos
que não sabem sorrir. Ela passou a distribuir sorrisos todas as manhãs, não porque
quisesse algo em troca, mas porque sabia que um sorriso tem o poder de pintar de alegria
qualquer vida em preto e branco.

3 comentários:

  1. Muito bom o poema!

    Soliloqueando com sorrisos... espalhando o colorido da vida em meio aos dias gris, dislumbrando a vida e contagiando os que a cercam com a alegria intrínseca.

    Bruno Leonardi

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  2. Lindo... em tão poucas linhas tem tanto a nos ensinar!

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